O LIVRE-ARBÍTRIO BÍBLICO E O "LIVRE-ARBÍTRIO" PELAGIANO
Por
Marco Sousa
O
LIVRE-ARBÍTRIO DA BÍBLIA SAGRADA NUNCA FOI O "LIVRE-ARBÍTRIO" PELAGIANO
Pelágio
(350-423),
ao contrário dos pais primitivos que pregavam o livre-arbítrio juntamente com a
doutrina da corrupção da natureza humana, doutrina que posteriormente foi
chamada pelos reformadores de “depravação total”, pregou uma doutrina do “homem
puro”, que o pecado de Adão afetou apenas ele. Que “o homem nasce
puro”, e “pode permanecer puro, se quiser, independente do auxílio da graça”.
Os pais da igreja e os opositores históricos do determinismo (como James
Arminius) jamais pregaram isto.
O
que Pelágio fez não foi apenas modificar a soteriologia (doutrina da salvação),
mas toda a cosmovisão cristã e a antropologia, dizendo que todo homem nasce
puro. O que é um grande equívoco (embora as crianças sejam consideradas puras
e inocentes, não sendo imputado pecado antes da consciência, mas herdeiras do pecado,
mas não é propósito deste texto demonstrar os erros de Pelágio).
O
que nos importa é separar as ideias de Pelágio, dos pais primitivos, de
James Armínio,
de John Wesley
e de outros ícones importantes da história da igreja. Pelágio trouxe uma inovação antropológica, e
não é o pai do livre-arbítrio, como por muitos é sugerido. O que ele ensinou
foi outra coisa, infelizmente, também nomeada de “livre-arbítrio”, mas
totalmente diferente daquilo que os pais primitivos ensinaram.
Quando
alguém falar sobre o livre-arbítrio, o caro leitor saberá que esta história
(defendida pelos patrísticos) começa muito antes de Pelágio, e
sempre foi predominante na igreja (como ainda é hoje) até o século XVI. Somente no período
da reforma, e séculos posteriores, as doutrinas calvinistas ganharam destaque
de "doutrinas da igreja reformada”, e nem todos concordavam
com ela (Ex: os anabatistas e os remonstrantes), esta doutrina nunca foi unânime, nunca ficou sem
a oposição de homens notáveis, como Menno Simons, Baltasar Hubmaier (anabatistas),
Armínio, Simon Epicopus, Hugo Grotius (remonstrantes), John Wesley,
John Fletcher (metodistas) e outros incontáveis nomes.
Em resumo pode-se dizer que o
livre-arbítrio foi a doutrina pregada pelos pais da igreja, e não nasceu com Pelágio;
James Arminius não pregou ou reviveu as doutrinas de Pelágio, pelo
contrário, as combateu, revivendo as doutrinas da igreja primitiva.
“Se,
pois, o filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres.” Jo 8.36
AS ORIGENS DO PROBLEMA
1 - Alguns anos antes da disputa com Pelágio, Agostinho
havia afirmado acertadamente (e de acordo com a Bíblia sagrada) que o
homem possui livre-arbítrio “Deus, sem dúvida
alguma, deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento
da verdade, mas não lhes tirando o livre-arbítrio, pelo bom ou mau uso do qual é
que poderão ser justamente julgados” (capítulo 58 da obra
Livre-Arbítrio).
2 - Um pouco antes da disputa histórica entre estes dois
bispos, Pelágio chegou a Roma e notou que muitos
cristãos viviam de maneira indecente e muitos outros pareciam não se
preocupar com a crescente indiferença à pureza moral e obediência na
igreja. Rastreou o problema até uma publicação de Agostinho (Confissões),
onde este afirmava que ninguém podia ser continente, isto é, ninguém poderia abster-se da
imoralidade, a menos que Deus lhe desse essa dádiva.
Comentário ►
Do ponto de vista prático, nos dias
atuais existem ateus com excelentes princípios morais, cuja conduta é mais digna
do que a conduta de alguns religiosos que fazem questão de pregar
e viver a total depravação.
[1][2].
3 - Para combater o problema visualizado em Roma, Pelágio criou uma grande heresia, isto é, Pelágio passou a
defender que o pecador por meio de seus dons naturais poderia livrar-se do
pecado e abraçar a salvação, sem a ação da graça de Deus, usando a sua liberdade
por conta própria. Os argumentos de Pelágio
não subsistem quando submetidos ao crivo das sagradas escrituras.
4 - Para rebater os erros de Pelágio, Agostinho
negou a existência do
livre-arbítrio que ele mesmo havia defendido.
Os novos argumentos de Agostinho, utilizados no debate contra Pelágio, não subsistem quando passados pelo crivo das sagradas
escrituras e inclusive tais ideias foram rejeitadas e condenadas nos sínodos
de Arles em 473 e de Orange em 529
[3],
todavia como nos conta o calvinista Herman Hanko
[4], as ideias de Agostinho foram semeadas na reforma protestante por João Calvino e seus seguidores. Os adeptos desta doutrina
defendem o monergismo e o determinismo. A doutrina do
monergismo prega que somente Deus age na salvação do homem. Tal
doutrina se opõe ao sinergismo previsto na Bíblia Sagrada (Apocalipse 3:11).
Os adeptos do determinismo advogam que Deus teria predestinado alguns homens
para a salvação e outros para a condenação, fazendo acepção de pessoas de forma
clara e inequívoca. Este pressuposto deturpa o caráter santo e imaculado de Deus, além de transformar o projeto salvífico e o oferecimento de Cristo no calvário em um teatro. A Bíblia Sagrada destrói os argumentos deterministas do mesmo modo que o fogo aniquila a moita de capim seco.
5 - Agostinho ganhou a batalha contra o bispo britânico, mas hoje o “fantasma
de Pelágio” tem assombrado os seguidores deterministas de Agostinho. O
mesmo problema que Pelágio encontrou entre os crentes de Roma (vide item 2 deste texto)
tem sido encontrado em muitos grupos seguidores da teologia de Agostinho de
Hipona e de João Calvino, os quais continuam negando o livre-arbítrio e pregando que Deus
predestinou tudo, inclusive a queda de Adão e os pecados de cada cristão. Quando uma denominação que prega esta teologia adere completamente a apostasia e outros princípios que fogem da ortodoxia da igreja primitiva de Cristo, devemos nos perguntar se Deus também predestina denominações para escandalizar o mundo evangélico ou se tal teologia não estaria totalmente equivocada, levando-se em conta aquilo que a Bíblia Sagrada diz sobre o caráter de Deus (Vide Salmos 34:8, Tiago 1:13-17).
Vejamos alguns exemplos de ocorrências que ilustram os problemas supracitados:
Link 1
https://archive.is/kvilg e Link 2
https://archive.is/iw2cg
►
Obras literárias de apologia ao vício do tabaco produzidas por protestantes reformados.
Link 3
https://archive.is/B8X1L
►
Paráfrase da Bíblia Sagrada muito criticada pela cristandade (autoria calvinista).
Link 4
https://archive.is/ggvZw ► A negação do matrimônio indissolúvel.
Link 5
https://archive.is/UMyRr ► A legitimação do ecumenismo.
Link
6
https://archive.is/ImeWr ► Promoção do discurso LGBT em faculdade protestante.
Link 7 https://archive.is/carY8 e Link 8
https://archive.is/WC3VF ► Igrejas reformadas aderindo a movimentos contrários à ortodoxia cristã.
Nota importante: Cabe
mencionar que a Igreja Presbiteriana do Brasil não guarda
nenhuma relação com a PCUSA - Igreja presbiteriana dos Estados Unidos. As relações entre estas duas denominações foi cortada em 2015.
Igreja Presbiteriana dos EUA (PCUSA)
O
que teria provocado a apostasia da PCUSA? Esta pergunta foi feita a um grande teologo da vertente determinista sobre os eventos que aconteceram em 2015 na maior denominação calvinista dos EUA
com mais de 9.000 templos. Ele se complicou tentando explicar. Matematicamente só temos duas alternativas; o mau uso do livre-arbítrio, conforme
defendido por Agostinho antes do debate contra Pelágio (vide subtítulo 1
deste texto) ou algum decreto oculto de Deus, nos moldes defendidos pelos
teólogos deterministas. Apenas a primeira opção satisfaz de forma categórica aquilo que a Bíblia sagrada prega, sobre a responsabilidade humana e sobre o caráter santo e imaculado de Deus. Vejamos:
“Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser
tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e
engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência
concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” -
Tiago 1:13-15
“Não
veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará
tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que
a possais suportar” - 1 Coríntios 10:13
Nas imagens abaixo
percebe-se que a figura de Deus criada por Calvino e hoje bastante defendida
por seus seguidores foge completamente daquilo que o Senhor Jeová disse sobre
SI mesmo nas páginas das escrituras. Esta filosofia religiosa não encontra
respaldo no texto bíblico, mas consegue deturpar o caráter imaculado de Deus
perante os olhos dos pecadores e descrentes. São conjecturas humanas inseridas
à força no texto bíblico.
Pelágio entrou nas páginas da história como um grande herege, devido ao seu "erro fatal" de
pregar uma espécie de “monergismo humano”. Agostinho ao tentar corrigir o
erro de Pelágio foi mais longe do que devia e lançou as bases da doutrina que
João Calvino completaria mais tarde na Europa. Enquanto Pelágio é apontado como
um grande herege, Agostinho por outro lado tem sido aclamado
pela ala determinista do protestantismo e pelo catolicismo, como um verdadeiro santo e herói
de duas igrejas, mas na
verdade ele foi também um plantador de heresias, apesar de ter sido um crente em Deus [5].
É
impossível arrancar a liberdade conferida por Deus aos homens e também descrita nas
páginas da Bíblia Sagrada, sem fazer malabarismos e falsificações naquilo que
está claro no texto sagrado. Precisamos escolher: Ou pregamos a verdade bíblica sem misturas ou estaremos condenados a vivermos de mentiras religiosas propagadas por homens bem intencionados!
Não há vida sem escolhas, biblicamente falando!
Não há vida sem escolhas, biblicamente falando!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[3] Assunto do Item 2.1 deste módulo, na Unidade 2.
[4] Herman Hanko,
Pg. 58, Retratos de Santos Fiéis.
ALTANER, B; STUIBER, A. Patrologia - Vida
e Doutrina dos Padres da Igreja. 2ª ed.São Paulo: Editora Paulinas, 1972.
REALE, G; ANTISERI, O. História da Filosofia Antiguidade e Idade Média. vol.
1.Coleção História da Filosofia. São Paulo: Editora Paulinas, 1990.
V.V.A.A. Nova História da Igreja - Dos Primórdios a São Gregório Magno. Vol. 1.Coleção Nova História da Igreja. Petrópolis: Editora Vozes, 1966
V.V.A.A. Nova História da Igreja - Dos Primórdios a São Gregório Magno. Vol. 1.Coleção Nova História da Igreja. Petrópolis: Editora Vozes, 1966
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